segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Por que as pessoas mentem

“A verdade dói”, disse o autor. Não lembro onde ouvi isso, ou quem ele é. Só sei que esta contestação guia a minha vida e a de muitos outros. Nada mais seco e ríspido que a realidade pura e simples, como ela veio ao mundo. Aquilo que coloca frente aos olhos nossos maiores medos e perguntas. Acredito que viemos ao mundo de uma maneira exata, e que a odiamos. Pode ser parte dela, pode ser por inteira, mas sempre haverá algo que gostaríamos de mudar em nossa existência. Seja o nariz, as pernas, o coração ou a mente. Algo em nós sempre vai causar transtorno, fazer pensar, derrubar o moral. A verdade não é nada mais, nada menos, que uma maneira de deixar claro que temos estes pontos negativos.

A mentira, por outro lado, é como um remédio. Um relaxante muscular, que te tira a dor maior e faz você delirar num mundo ideal. Com ela, pode-se ser quem quiser, como quiser, onde quiser. Mentindo pode-se mascarar tudo aquilo que odiamos, que nos atormenta. Não escondê-la de si mesmo, mas dos outros. Uma pessoa sempre conhecerá seus defeitos e obrigatoriamente conviverá com eles, desde que o resto do mundo os desconheça. A mentira serve para que possamos sentir conforto para sociabilizar e criar vínculos, amizades. Quando se é perfeito, sempre há gente ao seu redor.

Na verdade, a mentira é como um tapete que cobre a sujeira no chão. A menos que você permita, ninguém descobrirá o que está escondido. Mentimos por não querermos mostrar quem realmente somos, pois é mais fácil viver no mistério de nossas vidas, sem ter que dar desculpas ou explicar as coisas. Por que pagar por um abajur quebrado, se podemos simplesmente dizer que não o quebramos? Ao mentir, afastamos todos os problemas e saímos, acreditando que tudo está certo.

Uso o abajur como simples exemplo, porque o que realmente escondemos atrás de uma boa mentira são sentimentos. “Eu odeio Fulano”, “Como eu te adoro, Cicrano”, “Eu jamais faria isso com o Beltrano”, atrás de cada declaração de exatidão, há sempre um fundo de mentira. É impossível amar ou odiar, querer o maior dos bens ou o mais terrível dos males para alguém, extremos não existem no nosso mundo. Justamente por termos sempre uma partezinha de nós que queremos esconder até a morte, ou depois dela, é que jamais saberemos o completo do ser humano. É impossível odiar por completo o Justin Bieber, simplesmente por detestar ao mais extremo nível a sua música, assim como não posso amar por completo meus pais, já que eles erram tanto quanto eu. Se eu digo que tenho absoluta certeza de que está tudo bem, é mentira, já que na verdade, nem eu sei o que é tudo. Mentimos não apenas por capricho, mas também por necessidade. Mentir simplifica as coisas, torna o mundo mais raso e fácil de entender.

Volto ao início para repetir que “a verdade dói”. Quando somos sinceros, quando existe coesão entre palavras e pensamento, vamos acabar machucando alguém querido. Contar as “mais puras verdades” da vida acaba por complicar o simples ato de viver. Ter que explicar por que odeio ter que esperar alguém por horas para poder fazer o que eu quero é infinitamente mais demorado do que simplesmente sorrir e dizer “não tem problema”. Mentir conforta à nossa mente e ao coração alheio.

Mas por mais lindo e bom que seja mentir, a poeira acaba por aparecer fora do tapete. A partir do momento em que aprofundamos um relacionamento, seja amizade, amor, sexo, passamos a conhecer o outro, e vice versa. Logo faremos um pergunta, uma afirmação, falaremos algo que atingirá o ponto certo, aquele maldito defeito que nos assombra. Aí então as mentiras caem por terra, e descobrimos os verdadeiros amigos, namorados, amantes. Verdadeiros. Se o mundo girasse em torno de verdades, se nosso egoísmo não nos impedisse de revelar ao mundo quem somos, viveríamos em paz eterna. Ou em guerra eterna. Provaríamos dos extremos da vida, do ódio puro ao amor inocente, que apenas crianças e psicopatas podem sentir. Que inveja deles...