sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Por que nos apaixonamos

Como falar de paixão sem ser clichê? Vou tentar. Acreditamos, na grande maioria, que se apaixonar é algo impulsivo e irracional. Discordo em parte. Ele pode, e comumente é, inconsciente, ou para ser mais preciso, “sub-consciente”, tendo em vista que não nos apaixonamos por qualquer ser ou motivo. Há algo em cada pessoa que nos atrai. Pontos, comuns ou não, que fazem alguém se destacar em meio a muitos. Da beleza extrema a inteligência aguçada, são inúmeras as qualidades que saltam aos olhos e fazem nosso coraçãozinho acreditar que ganhamos na loteria. Mas independente do que seja esta característica, não nos agrada em vão. Pelo contrário, ela diz muito sobre quem somos, ou sobre o que não somos.

Falo aqui desta paixão calorosa, ardente, que vemos nos cinemas. Aquilo que te injeta com 200 kvolts e te faz acordar todo dia com vontade de correr uma maratona. A paixão pode ser, e é, o maior motivador. É incrível como só de pensar que vai se ver a desejada, é possível renovar as energias e quebrar qualquer problema. Tudo corre magicamente, a mil maravilhas, quando estamos apaixonados. E claro, esta motivação nos leva a querer se apaixonar, cada vez mais e mais. É ótimo viver cada paixão, desfrutar do momento da viagem e pular no próximo trem antes que pare. Mas eventualmente, ele vai parar.

O resultado da paixão, no caso o seu fim, leva a duas coisa: namoro ou depressão. Não falo de depressão como algo destruidor, calamitoso, que te deixa de cama e quase te mata. Não acredito nisso. Digo depressão como exatamente o oposto do querer imenso que a paixão traz. Aquela tristeza, vontade de fazer nada além de pegar tudo e jogar na mão do ócio. Isto vem, claro, depois de um pico de vontade louca, de uma semana, ou três meses, ou um ano de felicidade imensa. Quando acaba o desejo, desejamos tê-lo de novo, mas estamos cansados. Mover todo o seu corpo para alguém e receber isto em troca, responde em grande parte ao título deste posto, por ser uma sensação incrível. Incrivelmente cansativa e facilmente renovável. Vou grotescamente compará-la a uma droga, que nos vicia por um tempo, e tem a capacidade de nos rejeitar e nos acolher conforme bel prazer.

A paixão pode nos levar ao céu do delírio e da alegria, e nos derrubar até o fundo do fundo do poço. Como? Fácil, é só dar errado. Acho que só o parto e um chute nas partes íntimas do homem devem doer mais que uma paixão não correspondida. Sim, paixão, não amor. O amor não correspondido é quase pleonasmo, ou redundância, ou incoerência. Amor vem com o tempo, e se ele nunca surgiu depois de cinco anos passados, desista! Já a paixão envolve o momento, e é completamente imprevisível. Logo, quando dá errado é pra cag@#£ de vez. Dói demais, machuca demais, e caleja. Quem apanha muito para a paixão esquece dela, e eventualmente vai tentar chegar ao amor diretamente. Largamos de procurar as pessoas erradas para tentar criar a certa. E que erro gigante nós cometemos. A pessoa errada é exatamente tudo aquilo que não queremos, que detestamos, e acaba sendo o que nos interessa conhecer. O ser perfeito e certo, “pra casar”, existe só nos sites de relacionamento, e é chato.

“Os opostos se atraem”, em teoria, traduz bem o que quero dizer. Quando falamos de paixão, aquele sentimento que te consome em um segundo e te hipnotiza por três meses, falamos de algo novo, empolgante. Passamos nossa vida toda (veja a obviedade) convivendo com nós mesmos. Ou seja (sim, vou chegar a um ponto), esgotamos nossos próprios defeitos e caçamos nossa qualidades pela eternidade. Será difícil que nos apaixonemos por alguém que seja igual, ou parecido conosco. Buscamos um diferencial, uma válvula de escape do nosso mundinho insano, para viver novas experiências. Se apaixonar é, de certa maneira, entrar em uma nova aventura.

Claro, nem sempre é assim. Há de se reconhecer que quase sempre (se não sempre, nisso não tenho certeza) passamos pela paixão para chegar ao amor. Aí sim, é bem possível que escolhamos alguém que se pareça conosco. Em muitas vezes quase esquecemos da paixão, pois ela vem carregada de um amor antigo, como uma amizade, por exemplo. Cria-se o sentimento, para depois o desejo. Amar, creio eu, é evoluir da paixão louca para o sentimento sincero, é conhecer aquele ninguém por quem nos apaixonamos e tornar ela, ou ele, aquele alguém que sempre procuramos. Um grande amigo, conversando comigo sobre este assunto, chegou a uma conclusão incrivelmente simples e exata. “Gostar do corpo e se apaixonar por ele leva ao sexo. Entender a mente e se apaixonar por ela leva ao amor”.

A paixão, repito, invoca os desejos, mexe naquelas partes que quando criancinhas temos vergonha de olhar, e que quando crescemos vemos em tudo quanto é lugar. Como diz o poeta: “sobe um fogo que me queima!”. Acredito que a paixão é a faísca da vontade de se ter alguém, da procura incessante por nossa alma-gêmea (é, caí no clichê). Podemos errar feio, errar bonito, e raramente (quase sempre uma vez só) acertar. Aí largamos mão de querer e passamos a viver. Descemos na estação e paramos de viajar. Passamos a amar. Logo, nos apaixonamos por querermos amar, em algum momento. Ou por que ela é muuuuuito gostosa!

Claro, estou falando da paixão por pessoas, não por coisas. Esse é um outro assunto, e um outro vício. Muito mais louco...

Este post foi encomendado pela sacana Camila Garcia. Tem uma pergunta que te incomoda? Quer saber de algum por quê? Odiou este post? Deixe seu questionamento aqui em baixo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Por que nos silenciamos

Segundo o dicionário Aurélio 2009 que tenho no meu computador, o silêncio é: Substantivo masculino: 1.Estado de quem se cala. 2.Interrupção de correspondência epistolar. 3.Ausência de ruído. 4.Sossego, calma. 5.Sigilo, segredo. Interjeição: 6.Para mandar calar ou impor sossego. Silenciar, logo, é executar estas descrições, seja em si mesmo, seja em outros. O silêncio surge no ato de não falar, na expressão clara de não se expressar. É uma maneira de tentarmos, mesmo que muitas vezes falhamente, fugir de alguma coisa. Claro que trato aqui do silêncio das palavras, da fala. O corpo, infelizmente, jamais se silencia.

Queremos, então, fugir de uma resposta. É o caso mais comum de acontecer, é a maneira mais fácil de nos escondermos. Seja por não sabermos a resposta, seja por negarmos a resposta. O silêncio é uma maneira de manter a neutralidade, de não dizer sim, nem dizer não. Ao falarmos nada, criamos a dúvida. É mais fácil deixar uma resposta em aberto do que carregar o peso que ela trará. O ato de calar-se é algo completamente egoísta e insensível, e gera consequências. Fazer nada é, na verdade, fazer algo: nada. Logo, ficar em silêncio é falar algo: não quero, não posso, não vou responder.

Podemos nos silenciar por não sabermos o que responder, e neste caso realmente não há muito que fazer. É como acontece quando o professor pergunta algo para a turma e ninguém responde. É o silêncio pelo respeito. Melhor ficar quieto que falar besteira, não é? Pode-se perguntar, procurar saber, mas o porquê de não fazermos isto vale um outro post. Podemos nos silenciar por não querermos responder, já que a resposta nos colocará em uma posição difícil, ruim. Quando falar não nos agrada, temos o poder de não fazê-lo, o poder da liberdade. É o silêncio pelo desejo. Como quando alguém conta uma piada, ou um acontecimento incrivelmente bizarro e, ao invés de comentarmos, preferimos acenar com a cabeça e sorrir. Mas a partir do momento em que resolvemos calar a boca e ver o que acontece, passamos o nosso mal-estar para os outros. A certeza que nos cercava, de que não vale a pena falar, vira a dúvida do próximo, em querer saber o que escondemos.

Finalmente, nos silenciamos por não podermos falar. É mais ou menos igual ao não querer, só que em proporções extremamente maiores. Deixa de ser um silêncio físico, onde o ar não sai e os lábios não se mexem, para ser um silêncio mental, onde passamos a negar as palavras da nossa mente. É o silêncio pelo medo. Ser obrigado a ficar quieto é entender que as conseqüências daquilo que poderia ser dito são muito maiores do que a simples dúvida do não falar. As pessoas não podem saber disto, de maneira nenhuma, e por isso nos calamos até o fim dos tempos. Pode variar desde ter matado alguém até ter traído a namorada.

A verdade é que aquilo nos perturba tanto, que mais vale fingir que nunca existiu. O silêncio deixa de ser o não falar e vira uma omissão. Perceba que falo em omitir, não mentir. A omissão parte de dois lados, jamais de um só. O namorado não pergunta por saber, ou imaginar, qual será a resposta. A namorada não fala, por medo do que virá. Assim, ambos se conformam com meias verdades e silêncios constrangedores. Só se mentimos quando somos questionados. Tentamos esquecer o ocorrido omitindo os fatos, para que ninguém possa confirmá-los ou negá-los. Se ninguém souber, nunca aconteceu. Ou no oposto, se três pessoas contam uma mentira, ela vira verdade. Este silêncio da nossa mente não acontece apenas com algo que fizemos, mas também com algo que deixamos de fazer ou esquecemos, algo ainda mais comum e aparentemente mais inocente, mas poderoso igual. O silêncio passa a ser algo ruim, corrosivo, necessário.

Mas ele pode ser inocente, instintivo, incontrolável. É o caso da timidez. Seja frente a milhares de pessoas, ou a uma só, recorremos rapidamente ao silêncio para tentar sumir, desaparecer. Não falamos então por que somos impedidos fisicamente disso. Quando o fazemos, quando rompemos o silêncio, normalmente nos arrependemos. Esta é a única situação onde não podemos controlar a quietude, onde é o silêncio que nos domina. É possível aprender a conviver com isso, e até mesmo usar ao seu favor. Agora dá onde surge ou por que, não sei. Ou nunca pensei sobre.

Roubo uma passagem vivida por uma querida amiga para retratar o lado bom do silêncio. Dentro de toda a história ela me contou o quão bom é “ficar no completo silêncio com alguém por horas, e perceber como aquilo é bom e em momento nenhum constrangedor ou tedioso”. A ausência de sons, o relaxamento de nossos ouvidos, aguça nossos outros sentidos, traz um novo entendimento do mundo a nossa volta. Ficamos sozinhos com nossos pensamentos, podemos refletir claramente e conversar com quem somos sem qualquer coisa para atrapalhar. Entendemos melhor os nossos sentimentos, organizamos a cabeça e o coração. Estar quieto ao lado de alguém é se sentir bem junto a ela, é não precisar criar conversas inúteis simplesmente para mantê-la ali. Poder ficar em silêncio com alguém, é querer estar ali. O absoluto silêncio é algo magnífico e aterrorizante, como o escuro extremo. Vale a pena experimentar, mas cuidado para não se viciar.

Este post foi encomendado pela amada Carolina Dantas. Tem uma pergunta que te incomoda? Quer saber de algum por quê? Deixe seu questionamento aqui em baixo.