Como falar de paixão sem ser clichê? Vou tentar. Acreditamos, na grande maioria, que se apaixonar é algo impulsivo e irracional. Discordo em parte. Ele pode, e comumente é, inconsciente, ou para ser mais preciso, “sub-consciente”, tendo em vista que não nos apaixonamos por qualquer ser ou motivo. Há algo em cada pessoa que nos atrai. Pontos, comuns ou não, que fazem alguém se destacar em meio a muitos. Da beleza extrema a inteligência aguçada, são inúmeras as qualidades que saltam aos olhos e fazem nosso coraçãozinho acreditar que ganhamos na loteria. Mas independente do que seja esta característica, não nos agrada em vão. Pelo contrário, ela diz muito sobre quem somos, ou sobre o que não somos.
Falo aqui desta paixão calorosa, ardente, que vemos nos cinemas. Aquilo que te injeta com 200 kvolts e te faz acordar todo dia com vontade de correr uma maratona. A paixão pode ser, e é, o maior motivador. É incrível como só de pensar que vai se ver a desejada, é possível renovar as energias e quebrar qualquer problema. Tudo corre magicamente, a mil maravilhas, quando estamos apaixonados. E claro, esta motivação nos leva a querer se apaixonar, cada vez mais e mais. É ótimo viver cada paixão, desfrutar do momento da viagem e pular no próximo trem antes que pare. Mas eventualmente, ele vai parar.
O resultado da paixão, no caso o seu fim, leva a duas coisa: namoro ou depressão. Não falo de depressão como algo destruidor, calamitoso, que te deixa de cama e quase te mata. Não acredito nisso. Digo depressão como exatamente o oposto do querer imenso que a paixão traz. Aquela tristeza, vontade de fazer nada além de pegar tudo e jogar na mão do ócio. Isto vem, claro, depois de um pico de vontade louca, de uma semana, ou três meses, ou um ano de felicidade imensa. Quando acaba o desejo, desejamos tê-lo de novo, mas estamos cansados. Mover todo o seu corpo para alguém e receber isto em troca, responde em grande parte ao título deste posto, por ser uma sensação incrível. Incrivelmente cansativa e facilmente renovável. Vou grotescamente compará-la a uma droga, que nos vicia por um tempo, e tem a capacidade de nos rejeitar e nos acolher conforme bel prazer.
A paixão pode nos levar ao céu do delírio e da alegria, e nos derrubar até o fundo do fundo do poço. Como? Fácil, é só dar errado. Acho que só o parto e um chute nas partes íntimas do homem devem doer mais que uma paixão não correspondida. Sim, paixão, não amor. O amor não correspondido é quase pleonasmo, ou redundância, ou incoerência. Amor vem com o tempo, e se ele nunca surgiu depois de cinco anos passados, desista! Já a paixão envolve o momento, e é completamente imprevisível. Logo, quando dá errado é pra cag@#£ de vez. Dói demais, machuca demais, e caleja. Quem apanha muito para a paixão esquece dela, e eventualmente vai tentar chegar ao amor diretamente. Largamos de procurar as pessoas erradas para tentar criar a certa. E que erro gigante nós cometemos. A pessoa errada é exatamente tudo aquilo que não queremos, que detestamos, e acaba sendo o que nos interessa conhecer. O ser perfeito e certo, “pra casar”, existe só nos sites de relacionamento, e é chato.
“Os opostos se atraem”, em teoria, traduz bem o que quero dizer. Quando falamos de paixão, aquele sentimento que te consome em um segundo e te hipnotiza por três meses, falamos de algo novo, empolgante. Passamos nossa vida toda (veja a obviedade) convivendo com nós mesmos. Ou seja (sim, vou chegar a um ponto), esgotamos nossos próprios defeitos e caçamos nossa qualidades pela eternidade. Será difícil que nos apaixonemos por alguém que seja igual, ou parecido conosco. Buscamos um diferencial, uma válvula de escape do nosso mundinho insano, para viver novas experiências. Se apaixonar é, de certa maneira, entrar em uma nova aventura.
Claro, nem sempre é assim. Há de se reconhecer que quase sempre (se não sempre, nisso não tenho certeza) passamos pela paixão para chegar ao amor. Aí sim, é bem possível que escolhamos alguém que se pareça conosco. Em muitas vezes quase esquecemos da paixão, pois ela vem carregada de um amor antigo, como uma amizade, por exemplo. Cria-se o sentimento, para depois o desejo. Amar, creio eu, é evoluir da paixão louca para o sentimento sincero, é conhecer aquele ninguém por quem nos apaixonamos e tornar ela, ou ele, aquele alguém que sempre procuramos. Um grande amigo, conversando comigo sobre este assunto, chegou a uma conclusão incrivelmente simples e exata. “Gostar do corpo e se apaixonar por ele leva ao sexo. Entender a mente e se apaixonar por ela leva ao amor”.
A paixão, repito, invoca os desejos, mexe naquelas partes que quando criancinhas temos vergonha de olhar, e que quando crescemos vemos em tudo quanto é lugar. Como diz o poeta: “sobe um fogo que me queima!”. Acredito que a paixão é a faísca da vontade de se ter alguém, da procura incessante por nossa alma-gêmea (é, caí no clichê). Podemos errar feio, errar bonito, e raramente (quase sempre uma vez só) acertar. Aí largamos mão de querer e passamos a viver. Descemos na estação e paramos de viajar. Passamos a amar. Logo, nos apaixonamos por querermos amar, em algum momento. Ou por que ela é muuuuuito gostosa!
Claro, estou falando da paixão por pessoas, não por coisas. Esse é um outro assunto, e um outro vício. Muito mais louco...
Este post foi encomendado pela sacana Camila Garcia. Tem uma pergunta que te incomoda? Quer saber de algum por quê? Odiou este post? Deixe seu questionamento aqui em baixo.