sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Por que fiquei três meses sem postar

Galera, antes de tudo peço perdão pela ausência.
Fui para um retiro espiritual neste semestre, bem legal lá. É chamado de Universidade. Acabei me envolvendo demais e fiquei sem tempo, mas pelo menos agora estou de bem comigo mesmo e com o meu futuro. O que de certo modo é ruim... ou pelo menos anti-criativo.

Enfim, devo voltar ao ritmo de pelo menos 3 a 4 posts por mês em janeiro, até meu novo retiro em março.

Feliz ano novo e boas festas!
Que vocês tenham grandes sonhos para 2011 e saibam que nenhum deles irá se realizar.

Abaixo o último post do ano.

Por que somos racionais demais

Pensar é a única coisa que separa o ser humano de outros animais. Somos inteligentes, vivemos do que produzimos e produzimos o que precisamos. Mas acima de tudo, somos seres racionais. A razão é algo que surgiu com o homem, seja por necessidade ou prazer, e o utilizou para definir tudo que se faz de certo e principalmente de errado. Ser altamente racional é ter os pés no chão e calcular todo passo dado. Falta de razão é incoerência, é agir por impulso, é ser emocional. Não que racionalidade e sentimento se separem. Levar ao extremo idéias ou emoções é perder parte de si, é imaginar que somos feitos de um único elemento. A complexidade do homem está na sincronia entre sentir e pensar, entre agir e interagir. Saber manipular suas decisões para que jamais se esqueça que as emoções nos mantém vivos, e administrar nossos relacionamentos sem se dedicar demais é uma maneira de buscar a felicidade. Equilíbrio parece sempre ser o caminho certo a se seguir. Bonito, né? Parece um livro de auto-ajuda. Mas então qual o nosso problema em querer ser racional a todo instante?

O homem sempre teve e terá uma vontade incontrolável de categorizar e nomear as coisas. Isso é A, isso é B e eu posso dizer pra todo mundo. Ser racional é a maneira que o homem tem de poder controlar suas ações. Prever o que acontece, sendo que as atitudes tomadas são friamente calculadas, é fácil, logo é fácil esperar os erros e superá-los. Temos medo (instintivo ou consciente... ou os dois, não sei) de nos ferrar. Assim, nos protegemos tentando programar cada movimento, evitando as caquinhas e escolhendo o que parece mais certo. Incrivelmente ainda conseguimos errar. Ser racional é tentar prever as ações e reações de tudo que acontece a nossa volta. As ciências, sejam elas quais forem, vivem – e se matam – muito por isto. Mas ao aplicarmos esta categorização em nossas vidas pessoais, criamos um problema. Tentamos racionalizar ações que não dependem só de nós. Criamos dogmas, verdades incondicionais, para desesperadamente controlar o incontrolável. “Não está bem? Vamos dar um tempo, tentar entender quem somos e o que queremos” ou “você tem que perdoá-lo, ele é seu amigo”. Hipocrisia.

No fundo, todos nós temos exata noção de tudo que queremos, seja namorar aquela menina, ou pegar aqueles oito meninos. Ou ficar sozinho e deu. Utilizamos a razão para mascarar quem somos e o que queremos. Para ser mais claro e direto, é uma desculpa para mentirmos. Para os outros, claro. Para nós mesmo, é mais uma enganação ou coisa assim. Afinal, mentir para si mesmo é a mesma coisa que enganar seu cérebro... É estupidez. A mentira que se cria aqui é a de não ter sentimentos. Criar e seguir estes tais dogmas é mostrar que sabemos o que são as emoções, como funcionam, até onde nos levam. É pensar que somos intocáveis, categorizando sentimentos e colocando uma coleirinha neles.. “Sou frio e calculista, não me deixo levar pelo momento”. De novo, hipócrita. Ou você é um psicopata, que realmente NÃO TEM sentimentos – e olha que alguns seriados tentam dizer que até eles sentem –, ou você mente até os dentes. Todo mundo (preste bem atenção agora!) tem sentimentos, é levado por emoções, ama e odeia. E é horrivelmente controlado por elas. SEMPRE. É, isso mesmo, até aquele cara que é todo anti-relacionamentos, que acha o mundo um buraco sem fundo, sente alguma coisa. As emoções nos levam a decisões precipitadas, momentâneas, impensadas. Atitudes que jamais faríamos se refletíssemos um pouco, mas que respeitam ao máximo quem somos, na verdade verdadeira, no fundo do âmago, na raspa da alma. Ser racional nos leva a ser influenciado pelo mundo a nossa volta, por opiniões contrárias e a favor do que somos e fazemos. Logo, fazemos uma coisa, mas queremos outra. Pela última vez, hipócrita!

Pensar é a atitude mais individual do ser humano, logo, ser racional é pensar a vida de uma maneira mais solitária, egoísta. Claro que decisões pensadas podem influenciar não só quem as toma, mas normalmente a conseqüência é própria. Deixar as emoções agirem gera algo mais coletivo e intenso. Quem se afunda em pensamentos por que se machucou demais – é sempre assim – não tem escolha, acaba esquecendo as emoções e tende a ser mais frio, e consequentemente mais individualista. Quem quer ser racional também se machucou, mas ao invés de tentar encarar seus erros resolveu virar o fodão, agora é destemido, calculista, é quase o House. Pena que a vida real é mais cruel. Quem é racional por opção se ferra mais. Não por errar, mas por acabar completamente sozinho. “Mas poxa, como eu quero ser sozinho, lone wolf, um mistério”. Ser solitário é ser vazio. Ao invés de fazer o que quiser e quando quiser – como todo mundo pensa –, ficar sozinho é chutar todo mundo de perto, e por fim não ter nada além de uma única opção do que fazer. Até aquele teu amigo, que eu citei lá em cima, tem que se relacionar. Com quem? CONTIGO! Amizades são grandes maneiras de manter-se vivo, de continuar sentindo. Na verdade grande não é, mas é a mais utilizada.

Ser sentimental é ser louco, e louco é quem não tem sentimentos. O exagero de emoções, é claro, leva a tantas outras hipocrisias (droga, repeti!) que vale um outro post. Ouvi de um poeta, ou médico, ou idiota, a seguinte frase que acredito resumir bem tudo que foi dito: racionalização é uma mentira que contamos para nos fazer sentir melhor. Talvez por isso eu odeie quem é racional demais. Então por que diabos eu sou um deles?

Este post foi encomendado pela calouríssima Fran Nery. Tem uma pergunta que te incomoda? Quer saber de algum por quê? Odiou este post? Deixe seu questionamento aqui em baixo.