segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Por que nos silenciamos

Segundo o dicionário Aurélio 2009 que tenho no meu computador, o silêncio é: Substantivo masculino: 1.Estado de quem se cala. 2.Interrupção de correspondência epistolar. 3.Ausência de ruído. 4.Sossego, calma. 5.Sigilo, segredo. Interjeição: 6.Para mandar calar ou impor sossego. Silenciar, logo, é executar estas descrições, seja em si mesmo, seja em outros. O silêncio surge no ato de não falar, na expressão clara de não se expressar. É uma maneira de tentarmos, mesmo que muitas vezes falhamente, fugir de alguma coisa. Claro que trato aqui do silêncio das palavras, da fala. O corpo, infelizmente, jamais se silencia.

Queremos, então, fugir de uma resposta. É o caso mais comum de acontecer, é a maneira mais fácil de nos escondermos. Seja por não sabermos a resposta, seja por negarmos a resposta. O silêncio é uma maneira de manter a neutralidade, de não dizer sim, nem dizer não. Ao falarmos nada, criamos a dúvida. É mais fácil deixar uma resposta em aberto do que carregar o peso que ela trará. O ato de calar-se é algo completamente egoísta e insensível, e gera consequências. Fazer nada é, na verdade, fazer algo: nada. Logo, ficar em silêncio é falar algo: não quero, não posso, não vou responder.

Podemos nos silenciar por não sabermos o que responder, e neste caso realmente não há muito que fazer. É como acontece quando o professor pergunta algo para a turma e ninguém responde. É o silêncio pelo respeito. Melhor ficar quieto que falar besteira, não é? Pode-se perguntar, procurar saber, mas o porquê de não fazermos isto vale um outro post. Podemos nos silenciar por não querermos responder, já que a resposta nos colocará em uma posição difícil, ruim. Quando falar não nos agrada, temos o poder de não fazê-lo, o poder da liberdade. É o silêncio pelo desejo. Como quando alguém conta uma piada, ou um acontecimento incrivelmente bizarro e, ao invés de comentarmos, preferimos acenar com a cabeça e sorrir. Mas a partir do momento em que resolvemos calar a boca e ver o que acontece, passamos o nosso mal-estar para os outros. A certeza que nos cercava, de que não vale a pena falar, vira a dúvida do próximo, em querer saber o que escondemos.

Finalmente, nos silenciamos por não podermos falar. É mais ou menos igual ao não querer, só que em proporções extremamente maiores. Deixa de ser um silêncio físico, onde o ar não sai e os lábios não se mexem, para ser um silêncio mental, onde passamos a negar as palavras da nossa mente. É o silêncio pelo medo. Ser obrigado a ficar quieto é entender que as conseqüências daquilo que poderia ser dito são muito maiores do que a simples dúvida do não falar. As pessoas não podem saber disto, de maneira nenhuma, e por isso nos calamos até o fim dos tempos. Pode variar desde ter matado alguém até ter traído a namorada.

A verdade é que aquilo nos perturba tanto, que mais vale fingir que nunca existiu. O silêncio deixa de ser o não falar e vira uma omissão. Perceba que falo em omitir, não mentir. A omissão parte de dois lados, jamais de um só. O namorado não pergunta por saber, ou imaginar, qual será a resposta. A namorada não fala, por medo do que virá. Assim, ambos se conformam com meias verdades e silêncios constrangedores. Só se mentimos quando somos questionados. Tentamos esquecer o ocorrido omitindo os fatos, para que ninguém possa confirmá-los ou negá-los. Se ninguém souber, nunca aconteceu. Ou no oposto, se três pessoas contam uma mentira, ela vira verdade. Este silêncio da nossa mente não acontece apenas com algo que fizemos, mas também com algo que deixamos de fazer ou esquecemos, algo ainda mais comum e aparentemente mais inocente, mas poderoso igual. O silêncio passa a ser algo ruim, corrosivo, necessário.

Mas ele pode ser inocente, instintivo, incontrolável. É o caso da timidez. Seja frente a milhares de pessoas, ou a uma só, recorremos rapidamente ao silêncio para tentar sumir, desaparecer. Não falamos então por que somos impedidos fisicamente disso. Quando o fazemos, quando rompemos o silêncio, normalmente nos arrependemos. Esta é a única situação onde não podemos controlar a quietude, onde é o silêncio que nos domina. É possível aprender a conviver com isso, e até mesmo usar ao seu favor. Agora dá onde surge ou por que, não sei. Ou nunca pensei sobre.

Roubo uma passagem vivida por uma querida amiga para retratar o lado bom do silêncio. Dentro de toda a história ela me contou o quão bom é “ficar no completo silêncio com alguém por horas, e perceber como aquilo é bom e em momento nenhum constrangedor ou tedioso”. A ausência de sons, o relaxamento de nossos ouvidos, aguça nossos outros sentidos, traz um novo entendimento do mundo a nossa volta. Ficamos sozinhos com nossos pensamentos, podemos refletir claramente e conversar com quem somos sem qualquer coisa para atrapalhar. Entendemos melhor os nossos sentimentos, organizamos a cabeça e o coração. Estar quieto ao lado de alguém é se sentir bem junto a ela, é não precisar criar conversas inúteis simplesmente para mantê-la ali. Poder ficar em silêncio com alguém, é querer estar ali. O absoluto silêncio é algo magnífico e aterrorizante, como o escuro extremo. Vale a pena experimentar, mas cuidado para não se viciar.

Este post foi encomendado pela amada Carolina Dantas. Tem uma pergunta que te incomoda? Quer saber de algum por quê? Deixe seu questionamento aqui em baixo.

4 comentários:

  1. Ai fofísssimooooo! Adorei! O silêncio tem seu lado lindo, desse jeito que eu amo. Vou pensar em mais uma dúvida, sou sua pauteira.

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  2. e ah, a frase do lado bom do silêncio ali no último paragrafo é de um amigo meu, gurizão que faz uns filmes por aí, o quentin.

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  3. "A certeza que nos cercava, de que não vale a pena falar, vira a dúvida do próximo, em querer saber o que escondemos."
    Define o que penso do silêncio. Todas as outras divagações vão continuar girando em torno disso.

    Foi um ótimo post.
    =)

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  4. Muito bom é pouco Vini. Pra mim o silêncio é uma opção que as vezes representa um ato de covardia de roubar das pessoas a informação de quem você realmente é, passando-nos para a posição de desconfiável. É uma estratégia para adaptar-se a sociedade e sobreviver. É o "matar para comer" dos dias de hoje...

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